Vivemos conectados. Com uma média diária de mais de nove horas de uso de telas, os brasileiros estão cada vez mais imersos em conteúdos fragmentados, imediatistas e, muitas vezes, pouco confiáveis. Nesse cenário, a leitura – principalmente a leitura aprofundada – tem perdido espaço entre os jovens. Mas o que estamos deixando para trás quando deixamos de ler? E como podemos recuperar esse hábito essencial para formar adultos críticos e conscientes?

“A sensibilidade de um leitor acaba por exercitar um senso crítico que não se apega à superficialidade da informação de ‘grupos de WhatsApp’. Quando tudo vira ‘minha opinião’, a discussão sadia e o debate estão interditados – e isso é perigosíssimo.”
Yeso Osawa, professor de Língua Portuguesa e orientador de estudos do Curso Positivo
A leitura, segundo Osawa, é uma salvaguarda diante da avalanche de fake news e da banalização da informação. É também uma ferramenta importante para formar cidadãos capazes de se posicionar, argumentar e refletir com identidade. “Ela pode ajudar na criação de uma percepção sensível e crítica. Isso não é pouca coisa em uma sociedade cada vez mais individualista”, afirma o professor.
Consequências e oportunidades
O afastamento da leitura tem consequências preocupantes. “Quando coaches mirins são exaltados por jovens ao dizerem que ‘faculdade não serve para nada’, caminhamos exatamente na contramão de nações que valorizam a educação”, aponta Osawa. A perda de referência e de senso crítico tende a nos afastar de um futuro baseado no conhecimento e na inovação, empurrando o país para uma posição periférica em termos de desenvolvimento intelectual.
Ainda assim, há caminhos possíveis para reacender o interesse pelos livros. Projetos como a Feira de Livros, promovida recentemente pelo Curso Positivo, são um exemplo: “Foi gratificante ver como os alunos leitores – e, quem sabe, futuros leitores – se envolveram em uma atividade que é um respiro na nossa rotina tão acelerada”, conta o professor. Para ele, o papel das bibliotecas escolares também precisa ser ressignificado. “Que esse espaço seja usado de forma interdisciplinar e acolhedora, não apenas como um cenário bonito.”
No centro desse esforço está a ideia de que “somos todos educadores e aprendizes” – um dos valores que sustentam o propósito do Grupo Positivo. Trocar experiências, recomendar leituras, discutir boas histórias e incentivar o pensamento crítico é uma responsabilidade coletiva. “Mentira por mentira, muito mais saudável é a da literatura”, conclui o professor.
Feira de Livros: um respiro literário
Em um mundo cronicamente online, promover um evento presencial centrado na troca de livros e de cartas é uma forma sensível – e necessária – de reconectar os alunos com o valor da leitura e da experiência compartilhada. Durante três tardes, a Feira de Livros do Curso Positivo transformou uma sala de estudos em um espaço de encontros, memórias afetivas e recomendações literárias, engajando alunos e professores em torno de uma prática que vai muito além do conteúdo: ler para sentir, pensar e se transformar.
A proposta do professor Daniel Medeiros era simples, mas potente: cada aluno deveria escolher um livro que tivesse marcado sua trajetória como leitor e escrever uma carta recomendando a obra. A cada livro doado, ganhava o direito de escolher outro, entre as contribuições de colegas e professores. As doações também se transformavam em cupons para concorrer a prêmios como leitores Kindle, da Amazon, e vale-compras de até R$ 200 das Livrarias Curitiba.
O resultado superou as expectativas, contabilizando mais de 430 livros arrecadados, 340 títulos trocados e mais de 200 alunos impactados. Uma delas foi Mariana Bauman Chamberlain, aluna do Terceirão da unidade Vicente Machado, que vê na leitura uma fonte constante de evolução pessoal. “Os livros são nossa maior fonte de conhecimento. A gente não precisa da internet para isso. É importante sempre estar lendo para aprimorar tanto a escrita quanto a leitura”, conta. Para ela, todo tipo de leitura pode ensinar algo: “Quando leio, sinto muitas emoções. Pode ser um romance ou uma ficção. A gente aprende a controlar as emoções, desenvolve empatia, adquire novas palavras. Perdemos muito disso quando deixamos de ler.” A próxima Feira de Livros já está confirmada para o mês de setembro.
Essa experiência, mais do que uma ação pontual, foi um lembrete vivo de que cultivar o prazer pela leitura é também cuidar da formação crítica e emocional dos nossos jovens. Uma prática que reafirma o valor de sermos, todos os dias, educadores e aprendizes.