Autor da obra O Papai é Pop, com 300 mil exemplares vendidos no Brasil, Portugal, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. Mais de 5 milhões de fãs nas mídias sociais e mais de meio bilhão de views nos seus vídeos. Cinco vezes palestrante do TEDx, a maior conferência de ideias do mundo. Em 2021, seu livro O Papai é Pop vai para os cinemas, interpretado por Lázaro Ramos e Paolla Oliveira.
Autor do obra O Papai é Pop, com 300 mil exemplares vendidos no Brasil, Portugal, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. Mais de 5 milhões de fãs nas mídias sociais e mais de meio bilhão de views nos seus vídeos. Cinco vezes palestrante do TEDx, a maior conferência de ideias do mundo. Em 2021, seu livro O Papai é pop vai para os cinemas, interpretado por Lázaro Ramos e Paolla Oliveira.
A redação da Revista Positivo conversou com Marcos Piangers sobre as transformações no universo corporativo e do trabalho – que, agora, são aceleradas pela pandemia. Confira:
Revista Positivo – Atualmente, e mais do que nunca, vivemos um momento de transição acelerado pela pandemia. Neste cenário, quais as tendências percebidas sobre as transformações do trabalho?
Marcos Piangers – Bom, na verdade, temos percebido a pandemia como um acelerador de processos os quais já vínhamos observando. Neste cenário, lembro de uma entrevista que assisti com o Reed Hastings (co-fundador e CEO da Netflix), quando ele disse que a diferença entre as empresas em geral e as do Vale do Silício é que estas se preparam para o futuro baseadas na Lei de Moore (de autoria de Gordon Moore, fundador da Intel, é a base de todo estudo tecnológico dos últimos anos), por meio de uma regra que ajuda muito na previsibilidade de como as tecnologias estarão daqui a dez, 20 ou 30 anos.
Já estávamos acompanhando uma importante transição para o trabalho remoto. Várias empresas já estavam trabalhando em modelo híbrido ou utilizando os seus escritórios apenas como um ponto de encontro para os funcionários, e isso foi acelerado pela pandemia. O e-commerce, por exemplo, nos últimos dez anos, crescia em torno de 1% ao ano e, apenas nos primeiros meses de pandemia, cresceu mais de 15%. Observamos, também, uma realidade que antes ainda estava muito incipiente: o ensino remoto. E, de repente, com a pandemia, todo mundo se viu obrigado a aprender a distância.
Isso fez com que esse modelo de ensino necessitasse urgentemente de transformação, de ferramentas mais fluidas, mais humanizadas, e que propiciassem a interação de uma forma não desgastante. Por exemplo, ao utilizar a gamificação, ao aplicar ao processo de ensino-aprendizagem os comportamentos que os jovens já têm nos jogos e nas redes sociais, gerando assim um aprendizado mais efetivo, os capacitando não apenas em conhecimentos técnicos, mas também em soft skills. Por aí tem muitas oportunidades…
E, assim como na crise de 2008, quando vimos o surgimento de diversas novas empresas, acredito que esta crise que estamos vivendo irá revolucionar uma série de indústrias, a educação, a medicina, o mercado imobiliário, a partir de novas formas de se viver e trabalhar: talvez a gente veja uma dispersão das grandes cidades. Então, todas essas são tendências muito interessantes que a pandemia acelerou.
RP – Nesse sentido, o que seria importante para as empresas estarem atentas?
MP – Bom, acho que é muito importante a gente entender, primeiramente, que isso que estamos vivendo agora não é trabalho remoto. Trabalho remoto pressupõe um espaço específico, adequado e com as crianças na escola. Se os pais não têm a possibilidade de levar as crianças para a escola porque elas estão fechadas, ou porque há uma série de restrições, isso já desconfigura o que seria o trabalho remoto ideal.
Então, as empresas também têm que contribuir com infraestrutura para os seus funcionários. De preferência, criar algum tipo de condição para que eles possam produzir bem, tanto em casa quanto nos momentos presenciais – por exemplo, fornecendo equipamentos e cadeira adequados, horários flexíveis e o entendimento de que crianças eventualmente podem entrar no meio de uma reunião, sem que isso seja motivo pra diminuir o potencial produtivo de qualquer profissional.
Importante, também, entender que o problema da saúde mental é algo grave durante a pandemia. Já sabíamos que o burnout estava entrando na lista de doenças da Organização Mundial da Saúde e que a depressão já era uma das maiores causas de afastamentos do trabalho. Durante a pandemia, 44% se diz esgotado e, antes da pandemia, 97% dos trabalhadores se diziam cansados. Estamos sempre cansados. Tem filósofo chamando a gente de “sociedade do cansaço”, então você começa a entender que esse é um problema, e é um problema de produtividade. É um problema que tem que ser priorizado pelas empresas, para que tenham uma força de trabalho com saúde física e mental e, consequentemente, também se tornem mais competitivas.
O ideal de trabalho remoto seria migrar disso que estamos vivendo para um formato mais organizado, para daí, quem sabe, evoluir para o modelo de empresas distribuídas. Um conceito que já existe, em que o funcionário pode viver em qualquer lugar do mundo e a empresa pode então contratar os melhores profissionais, onde quer que estejam, e se tornar uma empresa realmente produtiva, 24 horas por dia, porque tem alguém na Índia trabalhando, depois em Portugal, depois nos Estados Unidos, depois no Brasil, e essa é uma empresa distribuída e global.
Precisamos estar atentos. A Netflix é uma empresa americana que desafia globalmente todos os produtores de conteúdo do mundo (Globo, BBC e o maior canal de televisão da Índia, por exemplo, que está sendo impactado pela Netflix). O Facebook impactou os negócios de todos os jornais do mundo; o Uber, de todos os táxis do mundo; o Spotify, empresa sueca, mas que tem sede nos Estados Unidos, impactou todas as rádios do mundo. E, da mesma forma, irão existir novas empresas, que irão impactar todos os consultórios e hospitais médicos do mundo, que irão impactar todas as escolas do mundo; e irão existir novas empresas que irão impactar todos os escritórios do mundo. Então, é muito importante estar preparado para esse futuro.
RP – E o que os colaboradores devem ter em vista para acompanhar de forma construtiva essas mudanças?
MP – Em primeiro lugar, todos precisam acompanhar as mudanças tecnológicas. Se você não tem nenhuma aptidão para o entendimento dessas ferramentas, dos seus processos evolutivos, é muito importante você se aproximar de alguém que tenha, ou fazer algum tipo de treinamento, ou mesmo seguir algum canal no Youtube, ou, pelo menos, ouvir um podcast que explique essas transformações, porque esse é um dos pontos mais importantes para o entendimento do trabalho no futuro.
Outra coisa é o desenvolvimento de soft skills: a gente sabe que autoconhecimento é o primeiro passo para termos sucesso profissional. 75% do sucesso não é QI, não é inteligência, mas é todo o resto, o que a gente chama de 5 Cs – (auto)conhecimento, comunicação, colaboração, criatividade e consciência coletiva. Quando se tem autoconhecimento e uma boa comunicação, você já está largando na frente. A comunicação se torna cada vez mais importante em uma situação não presencial. Colaboração é outro fator importantíssimo que poucos adultos têm, uma soft skill que poucos desenvolvem.
Já a criatividade é o Santo Graal de toda empresa. Uma pesquisa da PWC, de 2017, revelou que as habilidades mais procuradas nos profissionais eram criatividade, liderança e adaptabilidade. Estas seriam as principais habilidades das quais um colaborador precisa: adaptar-se à tecnologia, exercitar um processo criativo de oferecer novas soluções para os mesmos problemas e exercer o seu papel de liderança com o foco em cuidar e inspirar as pessoas, atuando como exemplo.
RP – Como você vê a digitalização das profissões e quais seriam as oportunidades a partir disso?
MP – Acho que toda empresa vai ser digitalizada. E que todo advogado, arquiteto, engenheiro, designer, jornalista, músico e demais profissionais deveriam estar atentos às transformações tecnológicas e utilizando essas ferramentas para modernizar a sua entrega de serviço ou produto. É o que chamamos de digital twin, que seria você fazer um “gêmeo digital” e começar a fazer tudo o que você faz ao vivo – atendimento, entrega e tudo o que faz parte da excelência que você tem no seu trabalho presencial. Ou seja, é você conseguir fazer a transição para o digital, utilizando todas as ferramentas em ambientes digitais pra fazer esse “gêmeo digital” daquilo que você já entrega no mundo analógico.
O que a gente tem visto é que tem alguns players que a gente tem chamado de “corona winners”, que são os vencedores da pandemia, são os colaboradores das empresas que conseguem vencer durante a pandemia, porque já tinham se preparado muito bem com ferramentas de trabalho remoto, de produtividade, de boa comunicação e de entrega digital em ambientes nos quais os consumidores estão: redes sociais, jogos e todas as plataformas que cresceram em quantidade de minutos consumidos. Essas empresas já estavam preparadas ali, trabalhando nesses ambientes.
RP – Percebemos que o jeito de se relacionar com os colegas de trabalho mudou a partir do novo formato de trabalho. De que forma isso pode se refletir no clima organizacional?
MP – Tem um impacto muito grande. Os colaboradores que estão mais produtivos em home office provavelmente são os que não gostavam da interrupção e do barulho do escritório e da quantidade de reuniões. Esse funcionário pode estar mais produtivo, mas não significa que ele está mais feliz. Por outro lado, há outros que estão se sentindo em meio ao caos, com família, filho, cachorro… Então o ambiente do home office é caótico e ele não vê a hora de voltar para o escritório. E tem o funcionário que gosta do escritório por conta das interações, das amizades, do aprendizado: ele é um funcionário que quer conhecer pessoas novas e aprender com os mais velhos e que acha importante aquele ambiente de troca.
Então, a gente consegue, hoje, verificar algumas boas práticas de empresas para suprir essas necessidades. Primeiro, encontros de grupos pequenos que não se conhecem, de áreas distintas da empresa, via web, uma vez por semana. Então você reúne dez pessoas que não se conheciam apenas para conversar, trocar ideias, falar sobre a vida. Tenho visto empresas fazendo as “unhappy hours”, que são encontros nos quais os funcionários se reúnem on-line apenas para falar sobre os seus problemas pessoais, sobre os seus momentos difíceis em casa, com a família, e isso gera intimidade, e intimidade gera confiança. Mesmo trabalhando a distância você consegue, então, fortalecer os seus colaboradores.
Terceiro, a gente tem visto empresas investindo na participação de ideias de funcionários; então, elas têm a humildade de perguntar para os seus funcionários: “como que a gente poderia fazer melhor?”; “como você se sentiria melhor?”; “pinte um mundo perfeito de home office ou de escritório”; “como que a gente poderia bater essa meta de uma forma mais suave, mais leve, sem tanta pressão?”; “o que você faz no seu trabalho que você odeia ou qual é a parte da qual você menos gosta?”.
Então, é uma chance que a gente tem agora de remodelar as empresas, de redesenhar os sistemas organizacionais para que tenhamos empresas melhores, mais produtivas e principalmente mais felizes. Funcionário mais feliz entrega 30% mais produtividade, 60% mais fidelidade à empresa, ou seja, pede menos demissão, e 30% menos afastamento por conta de saúde. Então, vale muito a pena investir na felicidade dos funcionários.
RP – Quais seriam as características das empresas inovadoras e como um mundo conectado impacta a inovação?
MP – Primeira: empresas que estão hoje se perguntando como elas fariam se estivessem fundando a empresa novamente. Se hoje você estivesse fundando a sua empresa, como ela seria, como que seria a sua entrega, como que seria a melhor empresa da sua área de atuação se tivesse sido fundada hoje? Então você pega toda a sua experiência, seus colaboradores com capacidade e seus melhores funcionários pra entregar uma nova empresa, na sua área de atuação. Esta é uma característica das empresas realmente inovadoras: elas estão o tempo todo se refundando, se redesenhando.
A gente sabe também que são empresas que não focam na concorrência, focam na sua missão. Então, são empresas que têm uma missão aqui no mundo. Não é apenas por conta da meta, não é só por dinheiro, não é só por KPI. É porque sabemos aonde queremos chegar e existe uma incompletude no nosso objetivo. É essa incompletude que nos faz caminhar constantemente.
E, por último, as empresas realmente inovadoras no mundo conectado estão se abrindo para o novo, elas estão entendendo que, muitas vezes, o negócio que a gente tem talvez não seja um negócio do futuro. Então elas estão se abrindo para o novo, estão entendendo que a forma como as coisas foram feitas talvez não funcionem mais. E aí a gente vê empresas realmente se transformando, inclusive em seu modelo organizacional: tem empresa sem chefe, sem escritório, sem KPIs, empresas contratando senhores de 70 anos porque percebem que isso é importante… Então você começa a notar uma série de inovações, em áreas não tecnológicas, em áreas humanas.
RP – Em resumo, o que você entende como pontos principais aos quais devemos estar atentos para acompanhar os “novos tempos”?
MP – Primeiro: autoconhecimento é o novo MBA. Desenvolver o autoconhecimento, a comunicação, a criatividade, a colaboração e a consciência coletiva é muito importantes. Soft skills são a base das hard skills, do conhecimento técnico.
Segundo: desenvolver a curiosidade ou um interesse pelas revoluções tecnológicas. As tecnologias são apenas ferramentas, mas nas mãos de pessoas criativas elas oferecem a inovação.
Terceiro: nunca esquecer a sua humanidade. No mundo tecnológico, rodeado de robôs, exercitar a sua humanidade, a sua conexão com os outros seres humanos, a sua compaixão, a sua capacidade de mudar a sua forma de agir, com base na sua compaixão, no seu coração, é um diferencial. A máquina nunca vai emular a nossa paixão, o nosso trabalho em equipe. Agora que as máquinas conseguem fazer o que um cérebro humano consegue fazer, nosso diferencial não é mais o cérebro, o nosso diferencial é o nosso coração.
Veículo de comunicação interna dirigido aos colaboradores do Grupo Positivo.
Coordenação Editorial: Bruna Figueiredo
Redação:
Corporativo, Colégio Positivo, Curso Positivo, Instituto Positivo, Aprende Brasil Educação e Posigraf: Ariane Saldanha Morastico, Nayra Gazafi De Moraes, Suelen de Paula Salomão, Elisa Schneider, Ana Carolina Girardi, Ana Flavia Freire Borgo, Bruna Carvalho Figueiredo e João Lemos.
Imagens:
Acervo Grupo Positivo e Banco de Imagens.
Produção:
Revisão: João Lemos
Diagramação e formatação: Creative Hut
Colaboração: Juliana Fischer